“Redes sociais são oportunidade de alcançar quem quer dividir experiências”

“Existe um desejo humano que é o de compartilhar nossas histórias. E, por meio das redes sociais, há uma oportunidade de alcançar muito mais pessoas que queiram compartilhar essas experiências”. A afirmação de Elena Cabral (foto), professora e assistente do reitor nos programas acadêmicos e comunicações na Columbia Journalism School, norteou a palestra O uso de redes digitais pelo jornalista para produzir notícias, interagir com a audiência e expandir o acompanhamento da prestação de contas do poder público por meio de reportagens investigativas, parte integrante da quinta edição do Seminário Internacional de Jornalismo ESPM-Columbia Journalism Schcool, realizado de forma online.

Elena afirmou ainda que é importante estudarmos quais são as ferramentas disponíveis no mundo das redes sociais, o impacto da tecnologia no jornalismo digital e também na sociedade como um todo. “Esse é um momento de muita mudança. Há um grande debate sobre essas mudanças. Tenho muitas dúvidas sobre o futuro do jornalismo, muita preocupação, mas também vejo muitas possibilidades em razão das ferramentas que temos para fazer nosso trabalho.”

Entre as redes sociais, disse ela, a que mais se destaca para os jornalistas é o Twitter.  As redes são usadas para monitorar as notícias e para interagir com a audiência.  Metade dos americanos toma contato com as notícias por meio das redes sociais. “É muito importante acompanharmos como os jornalistas usam as redes sociais. Uma pergunta que se faz é como ter uma grande presença em redes sociais. E tudo começa com uma biografia. Ter clareza de que o jornalista faz parte do mundo público. E convidar o público para fazer parte de uma conversa. É uma boa ideia colocar um e-mail na biografia, porque às vezes o público não quer fazer uma pergunta num espaço aberto e prefere estabelecer esse contato privado.”

Segundo ela, há duas maneiras principais pelas quais os jornalistas usam redes sociais. A primeira é o crowdsourcing, um modo de usar a multiplicidade do público como fonte, que permite convidar esse público para participar do trabalho de apuração, de reportagem. A segunda é coletando notícias de última hora, as breaking news, seja por meio de conteúdo gerado pelo usuário – o user generated contente (UGC) –, seja por meio de fontes oficiais. “Crowdsourcing é o ato de convidar um grupo de pessoas em uma tarefa de geração de notícias. Há a questão da confidencialidade e de como vai ser compartilhada a informação”, disse Elena. “Há algumas percepções erradas sobre crowdsoursing. Segundo o Reuters Institute, a primeira é que não se trata de grupos aleatórios de pessoas. A outra é que não há transferência de responsabilidade pela apuração das informações.”

Para finalizar, ela destacou que muitas empresas hoje não fazem distinção entre o que é privado e o que é público quando se refere às manifestações dos jornalistas em redes sociais, por uma questão de que nas redes tudo é público e, se alguém está usando seu nome, sua identidade, não é difícil fazer uma conexão entre suas opiniões e o que se identifica como propriedade da empresa. Como consequência, o que se vê é que muitos estudantes temem usar Twitter, não querem ter essa imagem pública, ou não acham que tenham algo a contribuir. “Eu digo a eles que não usar Twitter é como um médico que não utiliza estetoscópio. É uma ferramenta importante, parte de nosso trabalho. Muitos editores, quando entrevistam nossos estudantes, procuram em primeiro lugar ver a maneira que eles se comportam em rede. E se eles veem comentários ofensivos, imagens ofensivas, a busca termina por aí.”

Na sequência da fala de Elena, os jornalistas Fabiana Oliveira, da Rede Record, Mauro Beting, do SBT, e Phelipe Siani, da CNN Brasil, participaram de uma mesa-redonda com o tema A relação entre o jornalista e o público no dia a dia da profissão

Para Fabiana Oliveira, o uso das redes é a ferramenta mais valiosas que os jornalistas têm. “Imaginar que, com o seu conteúdo, você consegue chegar até alguém, independentemente do veículo, da estrada, e a gente consegue ser abastecido todo o tempo por essa mesma pessoa que recebe nosso conteúdo, essa relação direta com nosso interlocutor para mim é a maior preciosidade de todos os tempos”, disse. 

Mauro Beting destacou que, nas redes sociais, o jornalista muitas vezes não pode se manifestar sobre política, o que é diferente de se manifestar sobre partidarismo ou questões eleitorais. “Mas, na verdade, você pode desde que você assuma a bronca. Eu sou responsável pelas coisas que eu falo”, disse. 

“Eu não me considero hoje mais só jornalista, eu me considero mais comunicador do que qualquer outra coisa. E o que eu tento fazer cada dia mais é comunicar. Hoje eu sei imediatamente, mesmo sem ter os dados de audiência, o que algumas pessoas acharam do programa que eu apresento. Mas a gente sabe que a maior parte dos que vão se manifestar são os que não gostaram”, afirmou Phelipe Siani.

A palestra de abertura do Seminário foi do professor José Roberto Whitaker Penteado, editor da Revista de Jornalismo ESPM, edição brasileira da Columbia Journalism Review. Ele destacou a história da construção dessa parceria tão rica, entre a Columbia Journalism School e a ESPM, trazendo para o Brasil os pensamentos, as reflexões, elaborados na principal escola de jornalismo do mundo.

Ao lado de Elena Cabral, o presidente da ESPM, Dalton Pastore, deu as boas vindas a todos os presentes no evento. “Esse é um momento muito importante, especialmente para os nossos estudantes, porque a gente promove, através desse seminário, debates de alto nível sobre o jornalismo e sobretudo sobre o futuro do jornalismo. Na ESPM, o nosso compromisso é com o futuro dos nossos estudantes. Por isso eu sempre falo em excelência e perenidade. Excelência para que vocês saiam da ESPM preparados para ter sucesso profissional na carreira que vocês escolherem. E perenidade para que vocês sempre possam exibir com orgulho o sobrenome ESPM.”